A Dor Que Reflete: Quando Nossos Filhos Nos Mostram a Alma
Porque às vezes, a dor que vemos neles… é nossa pedindo cura
—
Em meu aniversário, recebi um presente inesperado.
Uma carta da minha filha de 20 anos.
Linda, amorosa, corajosa…
Nela, ela se abriu.
Me disse como se sente ao meu lado.
E uma frase me atravessou como um puxão:
como se a alma me dissesse:
“Olha essa dor aqui que ela está sentindo… você conhece. Você sentiu isso. E quem sabe… ainda está aí dentro, pedindo: me olha, me acolhe, me deixa ir.”
—
Na carta, ela pedia desculpas.
Dizia se sentir um peso — por ainda não estar trabalhando,
por ainda não ter entrado na faculdade…
Aquilo me doeu.
Chorei.
Chorei de emoção pelo gesto,
mas também por ver que ela carrega esse sentimento.
—
E no fundo, eu sei…
não posso evitar essa dor.
Ela não nasce dela.
Ela não nasce de mim.
Ela nasce de algo maior —
de um inconsciente coletivo alimentado por exigências, padrões, cobranças e medos.
Um sistema que nos adoece em silêncio.
Mas isso é conversa pra outro momento…
—
Mais tarde, ao longo do dia,
tivemos um momento só nosso.
Ela sentada na cadeira de balanço.
Eu no sofá, olhando-a com o coração aberto.
Agradeci pela carta.
Disse: “Você é uma escritora nata.”
E logo olhei bem dentro dos seus olhos e falei:
> “Sobre o que você escreveu… sobre se sentir um peso…
Não, minha filha. Nunca.
Você nunca será um peso.
Você é nossa filha.
Seja qual for nossa condição, estamos juntos.
Essa é sua casa.
Só sinto muito por, no momento, não poder te dar um mundo de possibilidades…
Mas você vai conquistar.
Não se cobre.
Você ainda é nova.
Tem um mundo pela frente.
E enquanto estivermos aqui, terá nosso apoio —
em qualquer escolha.
Mesmo nas que fizerem você sofrer.
Estaremos ao seu lado, sofrendo com você se for preciso…”
—
Eu vi.
Nos olhos dela.
Um alívio.
Um brilho.
Nem sei se ela entendeu tudo…
Nem sei se está se sentindo melhor.
Afinal, eu estou fora dela.
Mas eu me senti diferente.
Ali havia uma chave.
E essa chave era:
como eu estou me sentindo.
—
Se doeu em mim o que ela escreveu,
é porque doía nela.
E se doía nela,
é porque a dor ainda estava viva em mim.
Se ela é minha extensão,
se ela é meu espelho,
então era em mim que essa dor precisava ser curada.
—
Pode não ser instantâneo.
Mas eu sei:
essa dor não pertence mais a ela.
Porque eu olhei para ela em mim.
Acolhi. Reconheci. Agradeci. E deixei ir.
E isso…
isso é cura.
—
Esse é meu processo:
Sintonizar: perceber o chiado, identificar a dor.
Des-sintonizar: soltar, desapegar, olhar com amor e consciência.
Sintonizar comigo: sentir quem me tornei depois de acolher e transformar.
Não é teoria.
É prática.
É vida vivida.
E está sendo transformador.
—
A cada dia,
meu relacionamento com minha filha tem se fortalecido.
Assim como com minha mãe.
Estamos desatando nós de um cordão ancestral.
Somos extensões umas das outras.
Cada vivência é uma oportunidade de libertar algo que nos prende.
E a alma… ah, a alma sabe.
Ela nos chama.
Nos mostra.
Às vezes através de um filho.
De uma carta.
De um olhar.
Mas nunca é sobre o outro.
Sempre é sobre nós.
—
Hoje eu compreendi,
com todo meu ser:
somos espelhos.
Somos observadores.
Somos consciência em movimento.
E quando a dor aparecer, que eu tenha coragem de perguntar:
“O que em mim ainda pede para ser visto, acolhido e deixado ir?”
Porque cada cura em mim
é um alívio para quem caminha comigo.
—
Com amor,
de uma mãe que está aprendendo a se curar…
e, nesse processo, está curando também as gerações que vieram antes —
e as que virão depois.
GRATIDÃO!