Cartas não enviadas para quem me feriu – e me ensinou
Por muito tempo, nutri raiva e mágoas de algumas pessoas.
Hoje, dedico esta carta a elas.
Mesmo sem entregá-la, mesmo sabendo que talvez nunca leiam — embora, quem sabe, um dia acessem este meu espaço de cura emocional —, sei que talvez nem se deem conta de que se trata delas. Afinal, muitas vezes as pessoas nem sabem que ferem o outro quando não são sinalizadas. E eu… nunca sinalizei.
E claro, não citarei nomes. O propósito aqui é de cura interior, não de tensão.
Sempre me mantive como se nada tivesse acontecido.
Apesar de ser transparente no que sinto, nunca consegui disfarçar — mas também nunca disse o real motivo.
Naquele tempo, achava que essas pessoas deveriam, de algum modo, estender a mão para mim… talvez por consideração, talvez por afeto, ou por senso de responsabilidade. Mas isso não aconteceu.
No auge da minha dor, dos meus medos e angústias, me ressenti. E, na época, tive certeza de que estava certa. Que tinha toda razão.
Mas hoje entendo: era a minha razão.
A minha percepção limitada pelas feridas do momento.
O caminho da cura emocional é feito de camadas
Olhando para trás, observando o caminho que fui tecendo, vendo o quanto cresci, amadureci, me refiz, me colei… percebo que, no fundo, tudo aconteceu exatamente como precisava ser.
Não estaria aqui, neste momento, escrevendo e me expressando com essa liberdade.
Não estaria ao lado das pessoas que mais amo, vivendo com consciência.
Nenhuma vírgula da minha história poderia ter sido diferente.
Nem mesmo as vírgulas do silêncio.
Foram momentos dolorosos, angustiantes, repletos de temores. Mas também foram mestres.
Hoje, de coração calmo, digo: gratidão.
Gratidão a todos vocês que não me apoiaram, que não me ajudaram, que não me notaram, que não me viram, que não me sentiram…
No fundo, vocês cumpriram o papel exato que tinham na minha vida. A participação — ou a ausência dela — foi orquestrada por um universo que sempre me direciona para o melhor, mesmo quando, no meio do caos, eu não consigo enxergar.
O tempo como mestre silencioso
Mas o tempo… ah, o tempo sempre cumpre o papel dele.
Ele mostra, revela, ajeita tudo no lugar certo.
E se tem algo que esse caminho me ensinou, foi a paciência.
A paciência e o tempo são como yin e yang: um não existe sem o outro, e onde um termina, o outro começa.
A paciência é silenciosa, assim como o tempo.
Nosso relógio é barulhento — mas o tempo real é vagaroso, sutil, quase imperceptível… só acessível a quem está presente.
Hoje, só desejo que o aprendizado continue.
Mas que venha com mais consciência — porque quando estamos conscientes, não julgamos. Apenas aceitamos.
E quando aceitamos, somos livres.
Palavras que libertam: cartas de perdão
A você que, em minha percepção distorcida, senti que era obrigada a me estender as mãos, a me entender sem que eu dissesse o que sentia, a me apoiar em minhas escolhas, a me dar atenção como achava que merecia…
A você, que abri espaço com uma rachadura do tamanho de uma ponte, e onde era para ser apoio se tornou abismo…
Eu sinto muito, me perdoe, te amo, sou grata.
Desejo que todos os sentimentos estranhos e limitantes sejam dissolvidos em pura luz… gratidão.
A você que achava que tinha obrigação de me proteger, de me fazer sentir segura, de me acalentar, de me nutrir, de me amar em primeiro lugar na sua vida…
Me perdoe por tantos anos de emanação de raiva, mágoa, ressentimentos, julgamentos e críticas.
Sinto muito por não perceber o quanto você vivia suas guerras tão gritantes quanto as minhas.
Sinto muito por não ter empatia ou a sensibilidade de ao menos tentar te entender.
Hoje eu entendo: tudo que fez, tudo que escolheu, era o que tinha que ser…
Sinto muito, me perdoe, te amo, sou grata.
A você que tanto desprezei, que tanto diminui…
Que apenas cumpriu um papel que talvez, se fosse diferente, eu não seria quem sou hoje.
Sinto muito, por todas as vezes que desejei vingança, desejei o pior… inclusive sua morte (me dói dizer isso em voz alta na minha mente).
Me perdoe. Eu não sabia que era para ser assim.
Sinto muito, me perdoe, te amo, sou grata.
Silenciar também é uma forma de cura
Se me permite deixar uma mensagem, quem sabe um conselho amigo:
Silencia e espere.
No tempo certo, você vai entender por que algumas pessoas saíram da sua vida.
Por que não te ajudaram quando você mais precisava.
Por que viraram as costas. Por que não te perceberam. Por que diminuíram a sua dor.
Isso está te moldando.
E sim, às vezes esse moldar é doloroso. Principalmente quando nutrimos sentimentos de abandono, exclusão, rejeição.
Mas é possível des-sintonizar disso agora.
Crie seus próprios rituais de acolhimento.
Não precisa ser nada complexo — às vezes, apenas respirar fundo já alivia.
Não pense tanto.
Deixe que o tempo coloque cada peça do seu quebra-cabeça no lugar.
Que o perdão nos guie
A todos vocês, deixo que tudo isso se limpe.
Que todos os sentimentos limitantes se dissolvam em pura luz.
E que a nossa jornada, nesta e em outras vidas, seja livre de mágoas.
Que o perdão nos guie ao amor fraterno.
Assim é.